domingo, 30 de novembro de 2014

Sobre a pessoalidade da arte

Em um dos romances que mais tem me comovido nos últimos anos, Marguerite Yourcenar diz o seguinte: "Só traduzimos nossas emoções: sempre falamos de nós mesmos". A citação é da obra Alexis ou o tratado do vão combate e corresponde com o discurso do protagonista do romance quando fala de sua experiência como intérprete (ele é músico). Acho que a frase vale para todos os artistas porque sempre estamos falando de nós mesmos, inclusive quando nos esforçamos por fazer o contrário.
Meus caros amigos dá conta da afirmação de Yourcenar. Eu mesmo acabo me surpreendendo cada vez que apresento o espetáculo com essa sensação autobiográfica que o público percebe. E, no entanto, nada há de autobiográfico na história narrada. Mas acho que nada como este espetáculo delata mais a pessoa que sou ou, pelo menos, que fui em alguma época da minha vida. 
Luigi Pareyson defende o assunto da pessoalidade da arte. Eu também. Embora tenha partido dessa construção coletiva que é o imaginário para construir minha obra, o resultado só expressa essa apropriação particular que me define como individuo. Uma visão de mundo pessoal que contém tantas outras...

A arte é sempre feita por um artista, que nela derrama a própria espiritualidade, muito singular e irrepetível, ainda que nutrida pelo ambiente e pela sociedade em que vive; e a arte transfigura sempre as próprias condições, superando-as ou sublinhando-as, e delas se encontra separada por uma distância que somente o gênio criador do artista sabe preencher. (Luigi Pareyson)

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