segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

André Gide e o discurso imoralista

Uma nova publicação relacionada com o espetáculo produto desta pesquisa. "André Gide e o discurso imoralista" fala sobre um dos autores mais importantes para a consolidação do espetáculo Meus caros amigos. Leiam e comentem...

http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/15422/10581

sexta-feira, 29 de maio de 2015

quarta-feira, 18 de março de 2015

Uma brincadeira de palavras

O projeto O ator em solidão não é só uma pesquisa levada ao palco. É também uma pesquisa de doutorado e, daqui pouco, será divulgada. Por enquanto, deixo uma imagem construída pelo aplicativo wordle a partir das palavras mais usadas na minha tese. O que ideia produz essa imagem?


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O ator como intérprete

Um grande objetivo deste processo de pesquisa/criação é sair do função interpretativa que dominou minha carreira até agora. A procura pela autoria se traduz na necessidade de falar com nome próprio e deixar de ser o intermediário dos discursos de outros. Para entender o que estou falando neste sentido, fiz um estudo do lugar que o ator ocupa no meio teatral e como por séculos tem sido visto como veículo que faz com que o discurso de dramaturgos e encenadores chegue aos espectadores. para quem se interesse por esses assuntos, deixo a minha última publicação, na qual se apresenta esse panorama. Trata-se do artigo intitulado "El actor como intérprete", publicado na Revista Colombiana de las Artes Escénicas. Uma vez mais, gostaria de ler seus comentários.

http://200.21.104.25/artescenicas/downloads/artesescenicas8_14.pdf

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

20 de janeiro: dia de são Sebastião

Hoje é o dia de nosso santo, do santo padroeiro do espetáculo Meus caros amigos. Como ícone fundamental de meu imaginário sobre a homossexualidade, são Sebastião transformou de múltiplas maneiras a experiência criativa que neste blog se descreve. Mas sabem quem é Sebastião? Para quem não sabe, aqui um resumo da sua história. Para quem conhece algum outro dado, o espaço dos comentários está aberto...

Segundo a tradição católica (também é importante assinalar que faz parte dos santos da Igreja Ortodoxa do Oriente), são Sebastião morreu no ano 288. Foi soldado do exército pretoriano do imperador Diocleciano. Alguns autores afirmam que nasceu na região francesa de Languedoc, enquanto outros assinalam que foi em Milão. São Ambrósio diz que fortaleceu e alentou muitos cristões antes de serem martirizados pelos seus colegas soldados. Segundo a tradição católica, foi o responsável de várias conversões de altos mandatários do imperador e fez vários milagres entre as pessoas do povo. O maior foi o de Zoé, mulher de Nicóstrato, quem sendo muda recobrou a voz depois que Sebastião fez o sinal da cruz sobre sua boca. Quando Diocleciano soube dos fatos do seu soldado favorito, ficou colérico e entregou Sebastião aos arqueiros, os quais o ataram a uma árvore e disparam várias flechas sobre seu corpo. Mas não foi assim que morreu. Irene, uma devota, resgatou ele e curou suas feridas. Em vez de fugir, Sebastião voltou a Diocleciano. Surpreso de vê-lo vivo, mandou levar ele ao circo para ser publicamente golpeado publicamente até morrer. 
Outros autores asseveram que Sebastião recebeu o batismo muito novo e que era um jovem muito atraente. Filho de pais ricos e nobres, converteu Cromácio ao cristianismo, um dos principais personagens de Roma, e os irmãos Marco e Marcelino. Na época de Sebastião, a persecução contra os cristões se concentrou entre oficiais e soldados. Sebastião avisava àqueles que era descobertos e visitava os prisioneiros. Durante seu martírio, recebeu as flechas com grande sorriso e seus olhos brilhavam com alegria “celeste” (o que parece ser uma característica comum na sua iconografia). Depois da segunda tortura, o que o levou à morte, santa Lucina teve uma visão noturna, na qual o próprio mártir avisou onde estava seu corpo (para impedir seu enterro, Diocleciano jogou o corpo em uma cloaca) e onde queria que fosse enterrado. Nesse lugar, existe ainda uma igreja que leva seu nome. A inscrição na seu sepulcro pode se ler: “A Sebastião, mártir e campeão de Cristo, defensor da Igreja, terror da peste". 


terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Texto dramatúrgico de "Meus caros amigos"

É com muita alegria que fecho este ano com a publicação do texto dramatúrgico de "Meus caros amigos" na Revista Repertório da Escola de Teatro da UFBA. Para os leitores deste blog, é sua a primícia: texto acabado de sair do forno... Fico muito agradecido com os professores doutores Cleise Mendes e Raimundo Matos de Leão, editores do número no qual foi publicada a peça. Aqui o link:

http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revteatro/article/viewFile/12769/9043

domingo, 30 de novembro de 2014

Sobre a pessoalidade da arte

Em um dos romances que mais tem me comovido nos últimos anos, Marguerite Yourcenar diz o seguinte: "Só traduzimos nossas emoções: sempre falamos de nós mesmos". A citação é da obra Alexis ou o tratado do vão combate e corresponde com o discurso do protagonista do romance quando fala de sua experiência como intérprete (ele é músico). Acho que a frase vale para todos os artistas porque sempre estamos falando de nós mesmos, inclusive quando nos esforçamos por fazer o contrário.
Meus caros amigos dá conta da afirmação de Yourcenar. Eu mesmo acabo me surpreendendo cada vez que apresento o espetáculo com essa sensação autobiográfica que o público percebe. E, no entanto, nada há de autobiográfico na história narrada. Mas acho que nada como este espetáculo delata mais a pessoa que sou ou, pelo menos, que fui em alguma época da minha vida. 
Luigi Pareyson defende o assunto da pessoalidade da arte. Eu também. Embora tenha partido dessa construção coletiva que é o imaginário para construir minha obra, o resultado só expressa essa apropriação particular que me define como individuo. Uma visão de mundo pessoal que contém tantas outras...

A arte é sempre feita por um artista, que nela derrama a própria espiritualidade, muito singular e irrepetível, ainda que nutrida pelo ambiente e pela sociedade em que vive; e a arte transfigura sempre as próprias condições, superando-as ou sublinhando-as, e delas se encontra separada por uma distância que somente o gênio criador do artista sabe preencher. (Luigi Pareyson)

domingo, 19 de outubro de 2014

10º Festival Ibero-Americano de Teatro de Mar del Plata 2014

Meus caros amigos continua se apresentando em vários lugares. A última experiência foi a do 10º Festival Ibero-Americano de Teatro de Mar del Plata, organizado pelo querido artista teatral argentino Hugo Kogan. Um festival sempre é uma grande oportunidade de conhecer o trabalho de colegas de diferentes lugares e trocar experiências com eles. Para o espetáculo foi uma vivência maravilhosa. Estou muito agradecido com os colegas do México, da Argentina, da Venezuela e do Equador que acompanharam esta parte do percurso de Meus caros amigos. E vamos que vamos... Daqui a pouco, de volta no Brasil...


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Materiais criativos

Neste processo de criação de um espetáculo unipessoal, escolhi uns materiais de trabalho que obviamente partem do meu próprio acervo. Na troca de ideias com as diferentes plateias e com colegas que perguntam sobre o processo mesmo, surge sempre a questão sobre de onde sai tudo isso. A resposta que deu sempre é: tudo isso sai do meu imaginário.
O conceito de imaginário apareceu no meu percurso nas aulas da professora Sonia Rangel. Ela, quem é uma grande influência neste meu percurso, me conectou com autores como Michel Mafessoli e Juremir Machado Silva, os quais me esclareceram esse conceito. Silva, por exemplo, diz que:  

O imaginário é um reservatório/motor. Reservatório, agrega imagens sentimentos, lembranças, experiências, visões do real que realizam o imaginado, leituras de vida e, através de um mecanismo individual/grupal, sedimenta um modo de ver, de ser, de agir, de sentir e de aspirar ao estar no mundo. O imaginário é uma distorção involuntária do vivido que se cristaliza como marca individual ou grupal. Diferente do imaginado – projeção irreal que poderá se tornar real –, o imaginário emana do real, estrutura-se como ideal e retorna ao real como elemento propulsor. 

Assim, todos esses que chamo de materiais de trabalho, saíram desse reservatório. As imagens de são Sebastião, os textos de André Gide (que os leitores deste blog já tiveram a oportunidade de descobrir em outras postagens) e as experiências autobiográficas que usei fazem parte do meu imaginário sobre a homossexualidade. Quem assistir Meus caros amigos se encontrará com um espetáculo que é produto desse meu imaginário. As inúmeras interconexões desses materiais fizeram com que fosse possível a construção da ficção cênica.
A seguinte imagem resume o que poderia determinar uma espécie de estrutura na criação... Rede, rizoma, processo criativo... O que sugere para vocês, meus leitores, esta figura? Fico atento a seus comentários.

 

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Terceiro Festival Internacional de Teatro Rosa de Bogotá 2014

O espetáculo Meus caros amigos participou no Terceiro Festival de Teatro Rosa de Bogotá 2014, realizado do 15 ao 25 de julho, e recebeu o prêmio à melhor dramaturgia do evento. Foi um espaço para discutir e apresentar diferentes perspectivas sobre temática LGBTI, o que deu para o espetáculo a oportunidade de enfrentar um público muito sensível à proposta argumental da peça.
Participaram também outros espetáculos do Brasil, da Colômbia, do Chile, do Equador e da Espanha, entre outros países. Com a peça Tabule (criação de Júnior Lopes), da Companhia Peripécias da Universidade Federal de Rondônia, Meus caros amigos representou o Brasil, país convidado de honra.
Foi uma bela oportunidade para discutir este processo criativo e escutar outras opiniões de colegas de diferentes países. Falando sobre o que levou à criação do espetáculo, discutiu-se muito sobre no que nesta pesquisa chamo de materiais criativos. Numa nova postagem, falarei um pouco disso.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Meus caros amigos... Outro espetáculo em espanhol

A temporada de estreia em espanhol acabou e deixou-me novas perguntas e novos desafios. Traduzir para minha língua aquilo que criei na língua portuguesa me mostrou como a obra artística tem vida própria e se fortalece como um ser vivo que decide seu próprio caminho.
Descobri que compartilhar meu espetáculo com os espectadores de língua espanhola não produziu una nova versão da peça, mas outro espetáculo mesmo. Parece que se tratasse de outra história, de outro eu, de outro momento, de outra realidade exposta no palco... Novas sensações, novos ritmos, novas energias... Enfim, uma verdadeira nova experiência.
Gostaria de compartilhar com meus leitores novas imagens do espetáculo. Algumas das mudanças da segunda temporada podem se apreciar nestas imagens. O que vocês acham?
As fotos são de Germán Guevara, produtor e técnico do espetáculo, amor da minha vida...







segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Meus caros amigos estreia na Colômbia e em espanhol

Um novo desafio... Meus caros amigos agora em espanhol... O Pequeño Teatro de Medellín recebeu o espetáculo com os braços abertos... Daqui a pouco escreverei sobre o processo de "tradução" da obra...


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Teaser Meus caros amigos



Para meus queridos leitores, que não têm ainda uma ideia do que foi a primeira versão do espetáculo Meus caros amigos, compartilho o primeiro teaser. Adoraria ler suas opiniões.
 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O ator e a sua autonomia

Autonomia não é uma palavra que seja aceita com tranquilidade quando se fala do trabalho do ator. Há quem fala que sempre atrás de um bom ator encontra-se um bom diretor. Eu não brigo com essa ideia. De fato, concordo na maioria dos casos. No entanto, essa dependência não tem que ser um absoluto e já vi muitos casos de atores autônomos que, como poucos, são mestres de seu ofício.
Quando alguém debate comigo minha proposta, quase sempre se concentra nesse assunto. Para os que acham que os atores precisam de guias externos o tempo todo ou que não têm condições de andar sozinhos pelos caminhos da criação cênica, na continuação, algumas frases que vão adorar. Mas estas frases também são para os que, como eu, acreditam que nem sempre precisamos dessa dependência (eu também as adoro... rsrsrsrs...). Divirtam-se:

  • “O ator digno deste nome não se sobrepõe ao texto. Ele o serve. E servilmente” (Jean Vilar).  
  • “Os atores servem para interpretar todos os caracteres porque não têm nenhum” (Denis Diderot)
  • “A final, no teatro, talvez seja necessário e suficiente que o ator tenha a ilusão da liberdade. E poderia ser diferente? A escolha primordial de todo ator não é precisamente se alienar, mergulhando no papel? A arte do ator tal vez comece por esta renúncia” (Jean Jacques Roubine).
  • “O ator só tem uma arte de criação autêntica: a mímica” (Jean Vilar).
  • “O ator deve ser, e deve ser tão somente, o veículo de uma nova linguagem” (Antonin Artaud).
  • O ator deve sair do teatro e em seu lugar surgir a figura inanimada, a Supermarionete" (Gordon Craig).

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

"Espetáculo unipessoal como espaço criativo" em Porto Velho (RO)

Nos dias 24 e 25 de setembro, aconteceu a oficina "Espetáculo unipessoal como espaço criativo" dentro da programação da Mostra Palco Giratório do Sesc Rondônia. Na cidade de Porto Velho, tive a oportunidade de conduzir essa oficina com um grupo de atores e dançarinos muito talentosos. Foi um experiência única que deu para esclarecer muitos elementos desta pesquisa.



Os alunos também assistiram a palestra "Pressupostos teórico para o trabalho unipessoal", na qual discutimos vários temas que têm a ver com o trabalho e as funções do ator e as motivações para pensar a autoria no teatro a partir das potencialidades do espetáculo unipessoal.

Além disso, o espetáculo Meus caros amigos foi a presentado no dia 21 de setembro. A Sala Um do Sesc Rondônia abriu as portas ao espetáculo. A recepção do público não poderia ter sido melhor. Na continuação, o link sobre uma matéria produzida dentro da programação da Mostra.

http://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2013/09/ator-colombiano-traz-porto-velho-monologo-sobre-homossexualidade.html

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Estreia "Meus caros amigos"

Amigos, o espetáculo Meus caros amigos, produto desta pesquisa, teve sua estreia ontem no Teatro Martim Gonçalves da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, Salvador (BA), Brasil. A temporada continuara até 15 de setembro, 20 h. Sessões extra sexta, sábado e domingo, 17 h. Aqui, algumas das imagens capturadas pelo fotografo e amigo Diney Araujo. Como sempre, à espera dos seus comentários...








sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Monólogo, solo ou espetáculo unipessoal?



Varias pessoas têm me perguntado porque estou usando a expressão espetáculo unipessoal para me referir a Meus caros amigos. Algumas, inclusive, associaram a palavra unipessoal com um tipo de criação que partiria de inquietações pessoais; mas não tem a ver com isso, embora ache essa acepção interessante.
Quando pensei no tipo de espetáculo que queria fazer, me deparei com uma série de termos que, em muitos casos, falavam mais ou menos das mesmas experiências: monólogo, solo, monodrama, unipessoal e solilóquio, entre muitas outras. Algumas delas foram descartadas por sua relação exclusiva com o discurso verbal, outras por definir características muito específicas de gêneros teatrais. Finalmente, "classificaram" as três que dão título a esta postagem.
A palavra monólogo é, na minha língua, o termo comum para chamar os espetáculos que têm um só ator em cena, no entanto, sempre associada ao discurso verbal. Por esse motivo, resulta insuficiente para determinar o tipo de espetáculo que poderia sair desta classe de experimentações, tendo termos aparentemente mais amplos, como o usado habitualmente no Brasil – solo – ou o que ganhou força nos últimos anos na língua espanhola – obra unipersonal (espetáculo unipessoal).
Por outro lado, a expressão solo parece ser muito mais comum nas áreas de música e de dança. Uma rápida consulta no dicionário de língua portuguesa Aurélio demonstra a existência apenas de duas acepções relacionadas com a arte para a palavra: “Trecho musical executado por uma só voz ou um só instrumento” ou “Bailado executado por uma só pessoa”. Além disso, no mesmo sentido de monólogo, solo pode fazer referência tanto ao todo quanto à parte de uma peça musical ou de dança. Por isso, o termo usual na língua espanhola resulta mais específico. Ao falar de espetáculo unipessoal, a ideia de totalidade fica mais definida, motivo pelo qual decido, a partir deste momento, usar esta nomeação. O que acham desta decisão? Espero seus comentários. 

sábado, 17 de agosto de 2013

Leve: um obra de Fredy Alzate

Nem tudo pode ser em absoluta solidão. Precisamos de ajuda nas coisas que não fazem parte das nossas competências. Por isso, o artista colombiano Fredy Alzate fez sua contribuição ao espetáculo Meus caros amigos, o qual sustenta esta pesquisa. Inspirado na proposta cênica, pintou o obra intitulada Leve. Trata-se de uma pintura feita em acrílico sobre tela, que parte de uma das imagens que compõem a encenação. Ela será a imagem de cartazes e programas de mão.
Fredy consegue captar a essência do espetáculo num gesto que traduz muito bem minhas intenções como ator deste espetáculo unipessoal (numa próxima postagem compartilharei com meus leitores por que renunciei ao termo solo e decidi usar o de unipessoal). Espero que esta imagem motive mais àqueles que assistirão a temporada de estreia.
O que acham do trabalho de Fredy Alzate? Quais ideias sugere a pintura? O que tem a ver isto com O ator em solidão? Gostaria muito de ler suas opiniões.


domingo, 14 de julho de 2013

E os ensaios continuam...

Meus caros amigos já tem data de estreia: 11 de setembro no Teatro Martim Gonçalves da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Salvador, BA). Por enquanto, uma prova de que os ensaios continuam...





quinta-feira, 20 de junho de 2013

Oração a São Sebastião

Quem me conhece sabe que não sou católico, nem professo religião nenhuma. Mas não posso negar que fui educado num contexto altamente religioso e que meu gosto pelas ficções começou com duas referências básicas: os contos de fadas e as histórias dos santos. Minhã mãe ganhou várias vezes as olimpíadas bíblicas na sua escola (sim, existiam essas competições). Por isso, sabia muitas das histórias desse livro maravilhoso e de outros relacionados com os dogmas da sua fé. As histórias dos santos são maravilhosas e cheias de façanhas. Nesse sentido, nada diferentes das de fadas, príncipes e dragões (algumas, inclusive, têm esses seres mitológicos também). Pois bem, tudo isto para falar da referência que vocês, leitores, já devem ter percebido: São Sebastião.
Ele chegou no meu processo por ser ícone da comunidade gay. Mas sua história é bem interessante. Não a contarei agora, mas encontrei a oração dedicada a este santo e acho que será muito bom ter ela na minha encenação. Imaginam como será levada à cena? Aceito sugestões...

Glorioso mártir são Sebastião, soldado de Cristo e exemplo de cristão. Hoje nós viemos pedir vossa intercessão junto ao trono do senhor Jesus, nosso salvador, por quem destes a vida. Vos que vivestes a fé e perseverastes até o fim, pedi a Jesus por nós para que nós sejamos testemunhas do amor de Deus. Vós que esperastes com firmeza nas palavras de Jesus, pedi a ele por nós para que aumente nossa esperança na ressurreição. Vós que vivestes a caridade para com os irmãos, pedi a Jesus para que aumente nosso amor para com todos. Enfim, glorioso mártir são Sebastião, protege-nos contra a peste, a fome e a guerra; defendei nossas plantações e nossos rebanhos que são dons de Deus para o nosso bem, para o bem de todos. E defendei-nos do pecado que é o maior mal, causador de todos os outros. Assim seja.

(Tomada de O livro dos santos, de Carolina Chagas)

domingo, 9 de junho de 2013

Uma solidão acompanhada

Estes são meus caros amigos, aqueles que me acompanham na solidão dos meus ensaios. Diz Bachelard que "A consciência de estar só é sempre, na penumbra, a nostalgia de ser dois". Talvez, no meu caso, seja uma nostalgia de ser muitos...


"Meus caros amigos serão eternamente jovens na minha memória, belos como a mais prazerosa das lembranças... Meus caros amigos não têm medo da dor. O amor para eles nunca foi tortura. Meus caros amigos olham para o céu enquanto estão pecando..."

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Uma imagem motivadora

Prezados leitores,

O projeto O ator em solidão não para. Hoje gostaria compartilhar que o espetáculo já tem título: Meus caros amigos. Daqui a pouco, estarei publicando a data da estreia. Fiquem ligados. Por enquanto, deixo para vocês uma imagem que faz parte dos pontos de partida desta criação: o São Sebastião de pintor mexicano Ángel Zarraga. O que acham? De que fala esta imagem para vocês? Espero seus comentários...

domingo, 28 de abril de 2013

O monstro sagrado

Os variados debates que aparecem quando compartilho os objetivos da minha pesquisa com outros atores ou diretores de teatro deixam no ar uma atmosfera cheia de escuras nuanças... Sempre achei isso o melhor daqueles diálogos. No entanto, uma dessas nuanças que aparece constantemente continua me incomodando: a impressão da autossuficiência e de uma alta dose de egolatria. É como se aquela busca pela singularidade dentro de uma arte tradicionalmente coletiva fosse um pecado ou uma espécie de transgressão contra o mais sagrado do teatro.
Pensando minha aproximação como um sacrilégio, lembrei daqueles atores do final do século XIX e começos do XX, cujos egos lhes deram grande recordação. Alguns chamam eles de vedetes -acho que a palavra só tem feminino (algum leitor pode me tirar esta dúvida?)-, mas eu gosto mais da expressão "monstros sagrados" para nomeá-los. Sim, falo de Sarah Bernhardt (1844-1923), Henry Irving (1838-1905) e Eleonora Duse (1858-1924), entre outros.
Jean-Jacques Roubine diz que a arte destes atores se baseava indiscutivelmente no narcisismo, mas que isso não impede reconhecer a grandeza e a beleza do seu trabalho. Observados como fenômenos, estes monstros serão lembrados como grandes singularidades, são referência obrigatória na história do teatro e alvo de grandes ficções.
Não quero ser um novo monstro sagrado. Para sê-lo, precisaria de um talento excepcional e de mudar o foco da minha pesquisa em direção de um tema que considero anacrônico. Tenho certeza que muitos dos atores que trabalham na minha linha também não têm esse desejo. Não há em mim um instinto exibicionista maior do de qualquer ator. Mas há um grande desejo de potencializar as possibilidades de um exercício criativo que aproveite minha singularidade... Isso faz de mim um monstro? Ou, por acaso, um fenômeno? Infelizmente, não um prodígio, a outra acepção da palavra monstro. Qual é sua opinião sobre essas figuras? Espero alguns comentários sobre eles...

sábado, 20 de abril de 2013

VI Encontro Internacional de Mestres e Escolas de Teatro do Equador

A Universidade Central do Equador realizou o VI Encontro Internacional de Mestres e Escolas de Teatro em Quito do dia 1 de abril ao dia 6 do mesmo mês. O evento reúne grupos, companhias, escolas e mestres de teatro de vários países. Este ano o encontro contou com a participação de convidados de países como Equador, Colômbia, Brasil, Argentina, Chile, México, Venezuela, Costa Rica e Itália.
Fui convidado como mestre e, assim, o projeto O ator em solidão fez parte deste interessante evento. A oficina ministrada foi chamada O ator-autor. Uma proposta para o ator contemporâneo. Nela, foram discutidos vários assuntos, entre eles, a questão da autoria no teatro, a autonomia criativa do ator que prescinde do diretor e a potencialidade do espetáculo unipessoal. Participaram atores e estudantes de teatro do Equador, da Colômbia, da Argentina e da Costa Rica. Foi um espaço de discussão e criação maravilhoso.
O mais destacado desta oficina foi, sem dúvida, o encontro de diversas singularidades. Pegando as palavras de Renato Ferracini, a oficina me demonstrou a potencialidade do espetáculo solo para coletivizar a singularidad.
Nesta postagem gostaria de compartilhar algumas das fotografias tiradas durante a oficina e deixar na mente dos meus leitores, pelo menos, alguns dos rostros que participaram. Agradeço afetuosamente a Jorge Mateus, diretor do Programa de Teatro da Universidade Central do Equador e organizador do evento, pelo convite e pela generosidade.






 








terça-feira, 26 de março de 2013

Primeira apresentação pública

Como prometido, a primeira saída da sala de ensaio do processo de pesquisa O ator em solidão aconteceu. Foi no dia 19 de março de 2013 às 14:00 horas na sala 5 da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia em Salvador (Brasil). No contexto da  disciplina Processos de encenação, conduzida pela professora doutora Sonia Rangel, tive a oportunidade de ter um primeiro encontro com público. 
Neste ponto da pesquisa, apareceu um princípio criador que pode explicar muito bem a prática que estou desenvolvendo: a multiplicidade. Inicialmente inspirado nas propostas de Ítalo Calvino, entendo este princípio a partir das múltiplas e complexas maneiras de abordar a criação artística. Embora Calvino use o termo para entender os alcances da literatura contemporânea, a questão pode abranger as diferentes expressões artísticas. No meu trabalho, as variadas referências que me inspiram no momento da criação fazem com que a obra cênica seja possível. Minhas experiências, leituras e uma série de obras plásticas e musicais que me comovem são convocadas no momento do ato criativo. Assim, o interesse da prática apresentada na sala 5 foi trazer todos estes elementos de maneira material e não só metafórica.
27 versões pictóricas de São Sebastian – correspondentes a autores de diferentes nacionalidades, épocas e estilos – e três textos chaves – dois de André Gide (extraídos do romance O imoralista e do tratado Corydon) e um de Gaston Bachelard (O direito de sonhar) – foram pendurados num espaço cênico delimitado, visualmente, por uma atmosfera de luz e, sonoramente, por três peças musicais – o Erbarme dich, sein Gott de Johann Sebastian Bach, a Habanera de Georges Bizet e uma versão musical do poema de Federico García Lorca Gacela del amor que no se deja ver, cantado por Carlos Cano –. Todas essas referências contribuírem como pontos de partida para a criação da encenação que ainda não tem título e que, agora, começa a ter uma estrutura particular.
Pensando aquele espaço como encontro com meu eu poético, e depois de ter seu primeiro encontro com o público, entendo que ele me representa como sujeito artista. Finalmente, é a suma de uma série de experiências selecionadas a que faz com que essa prática seja possível. Para os propósitos da minha pesquisa, Ítalo Calvino se constitui como um autor fundamental na medida que reconhece esses procedimentos como legítimos. Um exemplo claro disto pode se perceber quando expõe as seguintes questões para responder ao reclamo de que a multiplicidade poderia afastar a obra do seu autor: “[...] quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis”.
A continuação, uma primeira imagem da experiência. Espero que os leitores deste blog comecem a ter uma ideia do que será isto cenicamente. Agradeço à professora Rangel, ao  professor doutor Luiz Marfuz (meu orientador), a Germán Guevara (meu companheiro de vida), a Júnior Lópes (meu amigo) e a P. H. Dias (meu colega) por sua colaboração e comentários.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Elogio da solidão

Venho do país da criação coletiva. Na Colômbia, a história do teatro está profundamente ligada à necessidade de se agrupar. E esse fato é absolutamente político. Nosso teatro apareceu com força no contexto universitário, sindical e obreiro. Pensar no teatro colombiano é pensar em grupo. É essa minha herança, minha orgulhosa herança.
No entanto, meu percurso me levou por outro caminho. E acho que essa eleição também constitui um ato de transcendência política. Decidir trabalhar em solidão quando se pertence ao mundo do teatro parece um contrassenso. "Como? Sozinho? Sozinho mesmo? Por quê?". Essas são perguntas que constantemente me são feitas.
Poucos críticos questionaram os exercícios criativos de escritores que decidiram trabalhar na construção coletiva de um romance. De fato, foram elogiados pela contemporaneidade da proposta colaborativa. Ninguém questiona a necessidade de associação quando se parte de uma situação de solidão, mas quase todo mundo o faz quando se trata do processo contrário.
Hoje, eu estou aqui. Sozinho na tarefa de criação. Procurando um estado que é realmente difícil e inalcançável como um absoluto. Mas tentando um encontro com meu eu artista -que pouco espaço teve no meu passado-, ocupado como estava da labor de interpretar os interesses de outros. A coletividade não estava me permitindo encontrar esse espaço. Acredito que, como assinala Gaston Bachelard, "A solidão é necessária para nos desvincular dos ritmos ocasionais". Além disso, o filósofo francês diz que "Ao nos colocar diante de nós mesmos, a solidão nos leva a falar conosco, a viver assim uma meditação ondulante que repercute por todas partes suas próprias contradições e que procura incessantemente uma síntese dialética íntima". Eu espero que a encenação que está se formando nesta pesquisa alcance esse estado de síntese dialética. 
Sim, venho do país da criação coletiva. Minha pesquisa não se separa de jeito nenhum da minha tradição teatral. De fato, ela é quem me permite esta licença. Com esta solidão, estou fazendo uso do meu direito ao no man's land, àquela segunda existência que Jean François-Lyotard considera fundamental para se encontrar consigo mesmo e que pode ser entendida como aquele direito a permanecer separado, a não ter que responder aos outros. Já chegará o momento do encontro com o público. Daqui a pouco terão notícias disso.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O palco teológico

Depois de uma breve conversa com o ator baiano Thiago Carvalho, fiquei pensando nas possíveis interpretações do propósito deste projeto. Vários assuntos ficam por se resolver. Da troca de ideias com Thiago, a anterior citação de Denise Stoklos foi um dos pontos que mais ressonou em mim. "O que é isso de que você é capaz de tudo?", perguntou Carvalho. Uma crítica à autosuficiência apareceu naquela pergunta. Querido Thiago, minha intenção não é criar um teatro da autosuficiência nem da individualidade (várias pessoas, no começo do projeto, acharam que essa era minha busca). Os versos de Stoklos só falam de um impulso por quebrar as regras de nosso teatro, de uma força que possibilita uma liberdade criativa das dictaduras e as hierarquias nas quais os atores acabam sendo simples intérpretes das ideias de outros. Quando pego as palavras de Stoklos, realmente estou invocando uma força criativa que vai me permitir levar ao palco minhas próprias perguntas. É no palco onde perigosamente estou achando que sou capaz de tudo...
Para fechar esta postagem, gostaria de trazer as palavras de Jacques Derrida falando do teatro da crueldade de Antonin Artaud. Acho que suas palavras traduzem muito das intenções deste projeto e apresentam aquele teatro do qual "O ator em solidão" tenta se libertar.

O palco é teológico enquanto for dominado pela palavra, por uma vontade de palavra, pelo objetivo de um logos primeiro que, não pertencendo ao lugar teatral, governa-o a distância. O palco é teológico enquanto a sua estrutura comportar, segundo toda a tradição,  os seguintes elementos: um autor-criador que , ausente e distante, armado de um texto, vigia, reúne e comanda o tempo ou sentido da representação, deixando esta representá-lo no que se chama o conteúdo dos seus pensamentos, das suas intenções, das suas ideias. Representar por representantes, diretores ou atores, intérpretes subjugados que representam personagens que, em primeiro lugar pelo que dizem, representam mais ou menos diretamente o pensamento do "criador". Escravos interpretando , executando fielmente os desígnios providenciais do "senhor". (2001, p. 343)

DERRIDA, Jacques. O teatro da crueldade e o fechamento da representação. In: _______. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2001. cap. 8, p. 339-365.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Três pontos de partida


O projeto O ator em solidão tem três motivações principais. A primeira é criar um espetáculo que possa se aproximar de uma problemática que me interessa de maneira pessoal: a falsa moral de uma sociedade que "aceita" a homossexualidade sempre que ela não seja desvelada. A segunda é experimentar a possibilidade de me liberar das formas já aprendidas de fazer teatro. A última é criar uma peça teatral da minha autoria sem ter que renunciar ao meu ofício de ator. Esses três pontos de partida encontraram eco em três figuras que considero verdadeiras descobertas estéticas: André Gide, Gaston Bachelard e Denise Stoklos.
Gide me deu a inspiração a partir da história de Miguel, um jovem que, depois da morte da sua esposa, decide reunir seus amigos para contar uma intimidade antes oculta. Isto acontece no romance O inmoralista. Também, deu para mim um interesante tratado sobre a homossexualidade (Corydon) e um belo relato erótico (O pombo torcaz) publicado post mortem pela sua filha. Mas, o maior presente de Gide foi o grande estímulo que pode se ler nesta frase da introdução do romance citado: "Na verdade, em arte não existem problemas dos quais a obra de arte não seja suficiente solução".
O segundo autor, Bachelard, foi aquele que me confirmou que a solidão era o caminho certo para minha busca por uma nova forma de criar. A solidão, exaltada de inúmeras maneiras nos seus textos sobre a imaginação, é aquele espaço onde o sonhador encontra o terreno apto para a criação.
A última, a atriz brasileira Denise Stoklos, oferece-me o último impulso. Por que não ser autor de minha própria obra? Por que não posso criar, encenar, interpretar e coreografar meu próprio teatro? Seu teatro essencial me dá essa força.
E vocês, meus leitores? O que acham de tudo isso? Tenho leitores já? A solidão é uma metodologia de criação teatral neste experimento, não um desejo de isolamento. Estão abertas as portas para suas opiniões, recomendações, dúvidas...