segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O palco teológico

Depois de uma breve conversa com o ator baiano Thiago Carvalho, fiquei pensando nas possíveis interpretações do propósito deste projeto. Vários assuntos ficam por se resolver. Da troca de ideias com Thiago, a anterior citação de Denise Stoklos foi um dos pontos que mais ressonou em mim. "O que é isso de que você é capaz de tudo?", perguntou Carvalho. Uma crítica à autosuficiência apareceu naquela pergunta. Querido Thiago, minha intenção não é criar um teatro da autosuficiência nem da individualidade (várias pessoas, no começo do projeto, acharam que essa era minha busca). Os versos de Stoklos só falam de um impulso por quebrar as regras de nosso teatro, de uma força que possibilita uma liberdade criativa das dictaduras e as hierarquias nas quais os atores acabam sendo simples intérpretes das ideias de outros. Quando pego as palavras de Stoklos, realmente estou invocando uma força criativa que vai me permitir levar ao palco minhas próprias perguntas. É no palco onde perigosamente estou achando que sou capaz de tudo...
Para fechar esta postagem, gostaria de trazer as palavras de Jacques Derrida falando do teatro da crueldade de Antonin Artaud. Acho que suas palavras traduzem muito das intenções deste projeto e apresentam aquele teatro do qual "O ator em solidão" tenta se libertar.

O palco é teológico enquanto for dominado pela palavra, por uma vontade de palavra, pelo objetivo de um logos primeiro que, não pertencendo ao lugar teatral, governa-o a distância. O palco é teológico enquanto a sua estrutura comportar, segundo toda a tradição,  os seguintes elementos: um autor-criador que , ausente e distante, armado de um texto, vigia, reúne e comanda o tempo ou sentido da representação, deixando esta representá-lo no que se chama o conteúdo dos seus pensamentos, das suas intenções, das suas ideias. Representar por representantes, diretores ou atores, intérpretes subjugados que representam personagens que, em primeiro lugar pelo que dizem, representam mais ou menos diretamente o pensamento do "criador". Escravos interpretando , executando fielmente os desígnios providenciais do "senhor". (2001, p. 343)

DERRIDA, Jacques. O teatro da crueldade e o fechamento da representação. In: _______. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2001. cap. 8, p. 339-365.

4 comentários:

  1. Juan, que legal esse espaço compartilhado. estarei por aqui acompanhando sua pesquisa. beijo!

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    1. Conto com sua companhia, Mirela. É um prazer receber suas leituras...

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  2. Juan, desde Francia me emociona ver y leer tu blog, aún cuando esta en portugués, apoyo mucho tu concepto de libertad creativa, entendiendo que tu propuesta no es de autosuficiencia sino de una propuesta de reinterpretar el quehacer artístico, justo en un momento donde estamos construyendo nuevos conceptos de todo nuestro habitar en le mundo. Por ello, quisiera preguntarte: desde tu propuesta innovadora de libertad y desligue de estructuras dictatoriales del arte, especialmente desde la distribución, ¿cómo abarcas, o reflexionas, desde tu proyecto, los espacios convencionales de proyección del arte escénico?, ¿consideras que esto también se debe replantear? Un saludo y espero sigamos construyendo arte entre todos

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    1. Matilde, pienso que desprenderse de los espacios convencionales es un paso que tiene que ver con todas esas rupturas. Claro que ha ido replanteándose eso. A veces, las necesidades creativas del artista de teatro necesitan salir del escenario clásico. En mi proyecto será el actor quien tome esas decisiones... Probablemente, mi puesta en escena me lleve a salir del espacio convencional o, por lo menos, usarlo de otra manera.

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