Como prometido, a primeira saída da sala de ensaio do
processo de pesquisa O ator em solidão aconteceu. Foi no dia 19 de março
de 2013 às 14:00 horas na sala 5 da Escola de Teatro da Universidade Federal da
Bahia em Salvador (Brasil). No contexto da disciplina Processos de
encenação, conduzida pela professora doutora Sonia Rangel, tive a oportunidade
de ter um primeiro encontro com público.
Neste ponto da
pesquisa, apareceu um princípio criador que pode explicar muito bem a prática
que estou desenvolvendo: a multiplicidade. Inicialmente inspirado nas propostas
de Ítalo Calvino, entendo este princípio a partir das múltiplas e complexas
maneiras de abordar a criação artística. Embora Calvino use o termo para
entender os alcances da literatura contemporânea, a questão pode abranger as
diferentes expressões artísticas. No meu trabalho, as variadas referências que
me inspiram no momento da criação fazem com que a obra cênica seja possível.
Minhas experiências, leituras e uma série de obras plásticas e musicais que me
comovem são convocadas no momento do ato criativo. Assim, o interesse da
prática apresentada na sala 5 foi trazer todos estes elementos de maneira
material e não só metafórica.
27 versões
pictóricas de São Sebastian – correspondentes a autores de diferentes
nacionalidades, épocas e estilos – e três textos chaves – dois de André Gide
(extraídos do romance O imoralista e do
tratado Corydon)
e um de Gaston Bachelard (O direito de sonhar)
– foram pendurados num espaço cênico delimitado, visualmente, por uma atmosfera
de luz e, sonoramente, por três peças musicais – o Erbarme dich, sein
Gott de Johann Sebastian Bach, a Habanera de
Georges Bizet e uma versão musical do poema de Federico García Lorca Gacela del amor que
no se deja ver, cantado por Carlos Cano –. Todas essas referências
contribuírem como pontos de partida para a criação da encenação que ainda não
tem título e que, agora, começa a ter uma estrutura particular.
Pensando aquele
espaço como encontro com meu eu poético, e depois de ter seu primeiro encontro
com o público, entendo que ele me representa como sujeito artista. Finalmente,
é a suma de uma série de experiências selecionadas a que faz com que essa
prática seja possível. Para os propósitos da minha pesquisa, Ítalo Calvino se
constitui como um autor fundamental na medida que reconhece esses procedimentos
como legítimos. Um exemplo claro disto pode se perceber quando expõe as
seguintes questões para responder ao reclamo de que a multiplicidade poderia
afastar a obra do seu autor: “[...] quem somos nós, quem é cada um de nós senão
uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações?
Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma
amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado
de todas as maneiras possíveis”.
A continuação, uma
primeira imagem da experiência. Espero que os leitores deste blog comecem a ter
uma ideia do que será isto cenicamente. Agradeço à
professora Rangel, ao professor doutor Luiz Marfuz (meu orientador), a
Germán Guevara (meu companheiro de vida), a Júnior Lópes (meu amigo) e a P. H.
Dias (meu colega) por sua colaboração e comentários.
Infelizmente não pude acompanhar esta viagem feita por Juan David... Deixo aqui um pouco de minha frustração, porém ressalto a importância dessa apresentação para o público (leitor/espectador) que, se torna compactuante do ator seja através do blog ou, dessa vez através de suas criações. Ao ler o post, me sinto agraciado e extasiado como a construção de uma cena, mistura tantos criadores num só... O que é o criador senão um vulcão de criadores dentro de si? O público agora se torna um Kublai Khan desse Marco Polo da cena que, começa a contar suas histórias através do que leu, viveu, experimentou... O invisível se torna visível aos nossos olhos. Parabéns Juan pela continuação dessa jornada.
ResponderExcluirQuerido, Diego. Senti muito sua falta. Adorei sua questão: "O que é o criador senão um vulcão de criadores dentro de si?". Acredito nela. Já teremos novos encontros com esta minha criação.
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